Introdução
O presente trabalho com o tema: Possibilidade de cura das diferentes
doenças com base na experiência local, tem por objectivo trazer uma reflexão da
pratica da medicina tradicional nas comunidades locais. Parte-se de principio
de antes da expansão da medicina ocidental, as comunidades locais e
principalmente maior parte da população moçambicana foi servida por estes
serviços de saúde.
Neste trabalho, o autor procura explicar como eram feitas ou ainda são
feitos os tratamentos das pessoas doentes nas zonas rurais principalmente
explicando as técnicas usadas, os praticantes, os clientes e servidos e os
tipos de doenças tratadas.
Para a produção do mesmo o autor recorreu a consulta bibliográfica de
autores de versam sobre a matéria e depois de recolhida e compilada a
informação, o trabalho apresenta seis pontos chaves que estão nele contidos e
termina com uma conclusão que se possa tirara dele depois de uma leitura
cuidadosa sobre o trabalho.
1.Possibilidade
de cura das diferentes doenças com base na experiência local
1.1 Medicina
Tradicional e Defesas Naturais
A medicina tradicional
pontua-se no sentido de um conjunto de medidas e situações que proporcionam
prevenção, cura e paz interior, se valendo de métodos naturais de cura,
composto por ervas, massagens, acupuntura, relaxamento mental e outras
técnicas. (Cfr: http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1757255-medicina-tradicional-defesas-naturais/#ixzz1vDp3qnlX )
Percorrendo a história
temos algumas civilizações que edificaram seus sistemas de cura, originalmente
vindos do povo e gradualmente sendo inserido nas universidades e formando
profissionais com diplomas e certificados, dentre elas podemos citar a Medicina
Ayurvédica de origem indiana e difundida em grande parte do mundo e com maior
aceitação e popularidade a Medicina Tradicional Chinesa, tendo como expoentes a
acupuntura e a fitoterapia (tratamento com plantas medicinais).
Esta forma de ver o corpo como um microcosmo, obrigatoriamente nos leva a
buscar o equilíbrio de nossos pilares de vida. Segundo a OMS-WHO (Organização
Mundial da Saúde), uma pessoa saudável deverá ter equilíbrio em quatro aspectos
do ser humano:
1.
Esfera Física - a saúde física é a primeira busca, porém a diferença está se
buscamos este equilíbrio denominado pelos fisiologistas de “homeostase”, de
dentro pra fora, ativando e mantendo íntegra nossa imunidade, ou se acreditamos
que intervenções externas com drogas muito potentes é que vão resolver nosso
desequilíbrio. Na MTC recomenda-se tratar os sintomas, mas também a causa,
evidenciando o princípio de tratar o ser humano como um todo.
2.
Esfera mental – há algum tempo atrás, nas sociedades ocidentais a medida de valor de
um ser, era o seu alto QI (quociente de inteligência), hoje sabemos que este
índice só mostrava a capacidade racional do indivíduo, sendo atestado na
atualidade no próprio mercado de trabalho, a valorização da inteligência
emocional, psíquica, espacial, social, linguística, e tantas outras. Junto com estas potencialidades residem as emoções, sentimentos estes capazes de alterar
em segundos toda nossa bioquímica fisiológica em reações que podem levar até a
morte, nos casos de paradas cardíacas ou derrames cerebrais, depois de
vivências de emoções muito fortes. A era da informação que vivemos, também
precisa ser a era do otimismo e do pensamento positivo, cultivando valores nobres
e emoções depuradas, evitando o acúmulo dessas energias ou a falta delas,
ocasionando as ditas doenças sociais, como a depressão, ansiedade, distúrbios
psíquicos, alcoolismo, tabagismo, obesidade e tantos outros. No oriente há um
adágio que diz “ uma pessoa é aquilo que ela come”,aqui fomos ensinados que uma
pessoa é aquilo que ela pensa, mas com a alma latina que predomina no Brasil,
podemos dizer que uma pessoa é aquilo que ela sente como queria Carl Jung e
3.
Esfera social – é sabido que o homem é um ser sociável, é um princípio de nossa
filosofia, sendo assim, como podemos considerar saudável os “isolamentos” ou
“ausências”, até mesmo quando percebemos que estamos no trabalho, em casa, em
família ou amigos, ou até mesmo numa prática religiosa, a maioria ainda se
sente solitária. A Saúde social é atingida à partir do momento que entendemos
que somos parte integrante de organizações, desde a primeira célula social que
é a família, amigos, colegas de trabalho, comunidades, escola, lazer. Em resumo
quem não se integra não se entrega para o exercício de sua socialização e
cidadania plena, com múltiplas actividades de diferentes aspectos, mas sempre
necessárias e complementares.
4.
Esfera
espiritual – este ponto não tem nenhuma conotação religiosa,
porém trata da religiosidade e da necessidade do ser humano desenvolver um
sistema de crenças de acordo com sua cultura e influências, para cultivar sua
espiritualidade. O conceito de religar e do latim como forma der
1.2 A prática de sistemas de saúde e cura de
doenças nas comunidades
Em
qualquer sociedade, em qualquer lugar quem procura cuidados de saúde tem a sua disposição
vários sistemas de prestação de cuidados de saúde. Todas as sociedades são
pluralistas, não há um único sistema de saúde. Há uma dezena de sistemas de
saúde, de prestação de cuidados de saúde
as pessoas quem precisa de cura, de alivio da dor (de qualquer tipo) procura um
prestador de cuidados.
A
procura de um terapeuta tem a ver com quem procura – a sua historia, a sua
cultura as suas experiências anteriores a sua capacidade de pagar, género o
nível e natureza de sofrimento. Cada um
destes sistemas de saúde nos seus discursos apresenta-se como o melhor ou tenta
manter uma certa hegemonia e tal hegemonia que cada um dos praticantes tenta
manter para si pode ser explicada de varias formas: ganhos económicos, acesso
ao poder politico, sistema de saúde dominam
num Pais ou no mundo, maior eficiência , eficácia, etc.
1.2.1
Níveis dos sistemas de saúde
Os
sistemas de saúde têm vários níveis. As tensões podem existir muitas vezes ao
nível nacional e internacional mas não existirem ao nível dos praticantes nas
aldeias e localidades ao nível das famílias
Segundo
Kleiman apud KONTANYI,(2003) existem três sectores de prestação de cuidados de
saúde: o sector popular, o sector folclórico e o profissional.
·
O sector popular-
constitui um domínio de prestação de cuidados de saúde não profissional, leigo
onde as doenças são diagnosticadas e tratadas dentro da família, recorrendo-se
a varias tradições de cura: vai-se a casa do enfermeiro vizinho, a caixa de
remédios do avo;
·
O sector folclórico
– inclui os prestadores locais de cuidados de saúde, os ervanários , os
curandeiros os advinhadores, os exorcistas, as matronas tradicionais, etc
·
O sector profissional
– é o sector de especialistas em bio-medicina e para fazer parte deste tipo tem
que ter diploma.
Estes
três sectores tendem a entrar em conflito o que se tentam estabelecer como os
únicos e melhores, esta relação entre os prestadores de cuidados de saúde
tradicionais e bio-médicos tem sido bastante conflituosa, mas a expansão do
HIV/SIDA, as doenças ligadas com a insegurança social e com a guerra, o desemprego,
as transformações sócio-económico , o desenvolvimento, a ruptura de laços
familiares fazem com que os prestadores de cuidados de saúde de diferentes tradições
se vejam forcados a colaborar.
Em
muitos países, os prestadores de medicina não bio-medicas, os praticantes de
medicina chinesa, da medicina tradicional africana também constroem a sua
identidade como medicina profissional.
Os
sistemas tradicionais de saúde estrutura-se pelo referido campo simbólico e
articulam por isso, família, economia, politica, religião, magia e feitiçaria.
É por ele que se modelam as representações e as praticas de saúde e da doença,
uma sociedade onde há comportamentos de ordem tende a ser constituída por
membros saudáveis e a doença é representada como um efeito produzido pela
desordem em qualquer um dos processos
dos seus diferentes domínios
1.3 Actores especializados
no sistema de saúde
De
acordo KONTANYI (2003:40)
Existem
basicamente quatro tipos de actores especializados no sistema de saúde nas
comunidades: adivinhos (que fazem adivinhação através de diversos sistemas
divinatórios); curandeiros (que tratam certas doenças através de diferentes
técnicas e meios); médiuns (que tratam certas doenças onde intervêm activamente
vários tipos de espíritos) e fazedores de feitiços (que induzem alteração de
forcas).
Existem ainda outros actores importantes como chefes
de tradicionais (considerados grandes curandeiros e feiticeiros) e chefes ou
seniores de famílias (únicos consultantes peritos). É verdade que afirmar que
em determinadas situações qualquer individuo da comunidade ou família pode ser
suspeito, acusado ou condenado como feiticeiro (representando como alguém que
rouba poderes de saúde, ou riqueza a outrem para proveito próprio)
Cada
um dos três primeiros tipos de peritos indicados nas comunidades pode acumular funções
de dois ou mais tipos, um adivinho pode ser curandeiro, um médium também pode
ser curandeiro e adivinho mas de forma geral, tis peritos do sistema de saúde
são possuídos por espíritos e o seu papel deriva do poder desses espíritos o
que revelaram querer possuir essas pessoas quando esta se tratava de alguma
doença.
Cada
um dos peritos sabe diagnosticar e ou tratar uma ou varias doenças ainda que o diagnóstico
e terapia não tenham que ser concordantes. Existem diferentes tipos de doenças
desde as mentais, ‘as psico-sociais e ate as somáticas
1.4 Origem das causas
diagnosticadas das doenças
As
causas das doenças ou infortúnios muitas vezes podem estar ligadas a vários
tipos de fenómenos:
·
Incumprimento de normas
sociais ou familiares;
·
Castigo de espíritos
antepassados por incumprimento de normas ou proibições;
·
Meio de revelação do
projecto de possessão de um espírito estrangeiro que em vida possui poderes
especiais;
·
Agressão de um espírito
de um familiar que morreu sem poder tornar-se antepassado e que reclama atenção,
rituais, ofertas varias ou construção de uma casa;
·
Agressão de um espírito
de um defunto não familiar que não foi devidamente enterrado e que pode exigir
somas muito importantes e que deve ser exorcizado;
·
Por ter visto ou participado em
cerimonias violentes ou mortes, sobre tudo quando há derramamento de sangue e
não existe iniciação e respectiva purificação;
·
Feitiços activados por
algum agressor;
·
Factores naturais.
O
diagnóstico geralmente pode ser canalizado através de adivinhação ou por
olfacto que detecta um espírito interveniente. São conhecidas terapias para
múltiplas doenças (esterilidade, mulher que aborta, epilepsia, diarreia,
herpes, dores de cabeça, dores de pele, doenças venéreas, etc).
As
terapias de uma forma geral, integram dimensões físico-químicas e simbólicas e
quase todos os medicamentos deriva de plantas (folhas, cascas, raízes e sucos)
que são indicados pelos espíritos quase sempre através de sonhos e que são
ministrados através de consumo (bebida e comida) de banho com agua quente (onde
tais materiais estão misturados) para lavagem ou debaixo de um cobertor para o
doente suar. A forca desses elementos está ligada a forca dos espíritos que
lhes dão esse poder por isso é
necessários realizar rituais preventivos para evitar o perigo de os retirar sem
o seu consentimento.
1.5 O papel dos médicos tradicionais na prevenção ao HIV/SIDA
O aumento de portadores da AIDS, mais conhecida
como SIDA em Moçambique, aliado a uma realidade de escassez de médicos e
profissionais da área da saúde, presencia um constante crescimento no número de
curandeiros e na realização de rituais, sendo que, de acordo com as últimas
estimativas do governo, o número de curandeiros ultrapassa o de setenta mil
pessoas em todo o país. Assim, torna-se surpreendente que, em pleno século XXI,
após Moçambique ter passado por um período de colonização portuguesa e pelo
socialismo da pós-independência, que os curandeiros ou vanyangas, como
também são chamados, tanto os anunciados nos jornais/revistas locais como os
divulgados nos manuais de orientação de saúde populacional distribuídos em todo
o país, sejam vistos como a principal fonte e alternativa de cura de doenças
ainda não solucionadas pela medicina tradicional ou pelos profissionais
especializados na área da saúde.
Nessa perspectiva, o curandeiro, que representa o
interlocutor entre o doente (nyanga) e o ser superior sagrado, é dotado
de todo um simbolismo, além da extrema credibilidade, fazendo com que a maioria
dos moçambicanos doentes o procure ao invés dos profissionais da saúde,
adoptando como correcta a prática de rituais sagrados, que variam desde a
adivinhação até a manipulação de ervas e a purificação através de banhos,
ablações e sacrifícios com meninas virgens ou animais sagrados, para a obtenção
da cura. Assim, o curandeiro, mais que os médicos ou qualquer outro
profissional especializado, é aquele que detém um papel de fundamental e
extrema importância na sociedade moçambicana, à medida que determina quando e
por quem a doença pode ser curada, seja através do ritual ou da medicina
tradicional, sendo então, a peça determinante na busca da cura das patologias
modernas.
1.6 Rituais como formas de reprodução simbólica
A reprodução simbólica que se dá através dos
rituais, surge como um meio de neutralização de ameaça ao que se considera
estranho, daquilo que é novo, mas que para muitos parece ainda ineficaz diante
do desespero e despreparo para se enfrentar a nova realidade que se posiciona
no mundo. Desta maneira, o retorno à tradição, através da utilização do
simbolismo dos rituais de cura, formado pela linguagem, pelos gestos, objectos,
emoções e pessoas determinadas, adquire um poder misterioso de ligar o humano e
o sagrado.
Para Marilena Chauí (1994), o sagrado pode ser
considerado como experiência da presença de uma potência ou de uma força
sobrenatural que habita algum ser – planta, animal, humano, coisas, ventos,
águas, fogo. Essa potência é tanto um poder que pertence própria e definitivamente
a um determinado ser, quanto algo que ele pode possuir e perder, não ter e
adquirir. O sagrado é a experiência simbólica da diferença entre os seres, da
superioridade de alguns sobre outros, do poderio de alguns sobre outros, da
superioridade e poder sentidos como espantosos, misteriosos, desejados e
temidos.
Neste contexto, o sagrado produz o próprio
encantamento com o mundo, o qual havia se desencantado diante da nova realidade
que se coloca e da impossibilidade momentânea da cura das novas patologias
modernas, diminuindo deste modo, o distanciamento entre o homem e a divindade,
à medida que suas necessidades e essencialidades são ouvidas e atendidas pelas
forças sobrenaturais que agem magicamente nos indivíduos.
Assim, os rituais de cura, que ocorrem através da
repetição minuciosa e perfeita do rito e do processo de transe em curandeiros,
profetas, magos, astrólogos, videntes, xamãs, sacerdotes, pajés ou pessoas
dotadas de poderes especiais em determinadas comunidades, têm como propósito trazer
o sagrado, também conhecido por mana ou por ntu, nome dado na
África, até o indivíduo doente e anunciar a vontade divina, que pode ser a
dádiva da cura ou a própria morte daquele que está convalescido; bem como
representam uma verdadeira aliança entre o doente e o ser superior/sagrado,
através da realização de um processo de troca, no qual o doente oferece algo
significativo para a divindade, que pode ser um objeto, uma dança, um animal,
um filho ou um bem de extremo valor simbólico, em troca espera receber a cura
de sua enfermidade.
Os rituais representam independentemente da
categoria social e económica do doente, visto que se encontra acessível a todos
os cidadãos, o principal e mais importante veículo de troca dos fluidos
espirituais, que transparecem como um bálsamo salutar para aquele que se encontra
acometido por algum tipo de patologia, pois atrai as dores do individuo
convalescido para as forças sagradas e o entrelaça mentalmente pela fé com o
ser superior, dando-lhe sempre uma resposta, seja através da revitalização de
seu corpo, da edificação de suas esperanças em relação à cura de suas
enfermidades ou, até mesmo, da própria obtenção da cura.
O ritual, mais do que uma súplica do doente ao ser
superior, estabelece uma verdadeira prece, cujo momento da comunhão com o
sagrado se dá através do sacrifício do doador à divindade em busca de sua
salvação, torna-se um momento único e de poderosa magia, cuja linguagem humana
jamais poderá exprimir correctamente mediante sensação de magnitude e
cumplicidade.
Neste sentido, o simbolismo presente na realização
de uma prece ou de um ritual sagrado, permite ao indivíduo encontrar valores
essenciais e necessários para a sua própria organização e reconstrução na
sociedade em que vive que, por sua vez, encontrava-se corrompida pelos ideais
da modernidade.
De acordo com Cassirer (1987), o simbolismo do
sagrado permite o acesso a um mundo especificamente humano, ao mundo da
cultura, a qual não se define em uma ciência interpretativa, que busca um
significado propriamente dito, mas que busca e se define como a própria
substância da sociedade, e desta maneira, sem a presença do simbolismo e dos
significados, a vida humana ficaria encerrada dentro dos limites de suas
necessidades biológicas e de seus interesses práticos; não encontraria acesso a
um “mundo ideal” e não teria qualquer sentido.
Conclusão
A medicina tradicional pontua-se
no sentido de um conjunto de medidas e situações que proporcionam prevenção,
cura e paz interior, se valendo de métodos naturais de cura, composto por
ervas, massagens, acupuntura, relaxamento mental e outras técnicas. Em muitas
comunidades rurais por exemplo, a cura de doenças com base na experiência local
continua a ser praticada aliada aos factores culturais por um lado e a falta
de infra-estruturas sanitárias por outro.
O tratamento de doenças
nestas comunidades tomam-se em conta as 4 esferas definidas pela Organização
Mundial da Saúde nomeadamente: esfera física, esfera espiritual, esfera
emocional e esfera social e em todas estas os tratamentos e a cura são feitos
por pessoas especializadas e com uma larga experiência como curandeiro, feiticeiros,
médiuns e outros anciãos da comunidades.
Embora em algum tempo
esta pratica tenha sido desprezadas pela medicina ocidental, nos nossos dias e
tomando em conta que tem estado maior numero de pessoas, tem sido levada em
consideração e ate tem estado lado a lado com a medicina convencional.
Bibliografia
KONTANYI,
Sophie. Espírito Corpo. Centro de Informação e Documentação Amilcar Cabral.
Lisboa.2003.
Medicina
tradicional. Disponível em:
http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1757255-medicina-tradicional-defesas-naturais/#ixzz1vDp3qnlX