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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Cura de diferentes doenças com base na experiencia local


Introdução
O presente trabalho com o tema: Possibilidade de cura das diferentes doenças com base na experiência local, tem por objectivo trazer uma reflexão da pratica da medicina tradicional nas comunidades locais. Parte-se de principio de antes da expansão da medicina ocidental, as comunidades locais e principalmente maior parte da população moçambicana foi servida por estes serviços de saúde.
Neste trabalho, o autor procura explicar como eram feitas ou ainda são feitos os tratamentos das pessoas doentes nas zonas rurais principalmente explicando as técnicas usadas, os praticantes, os clientes e servidos e os tipos de doenças tratadas.
Para a produção do mesmo o autor recorreu a consulta bibliográfica de autores de versam sobre a matéria e depois de recolhida e compilada a informação, o trabalho apresenta seis pontos chaves que estão nele contidos e termina com uma conclusão que se possa tirara dele depois de uma leitura cuidadosa sobre o trabalho.

1.Possibilidade de cura das diferentes doenças com base na experiência local

1.1 Medicina Tradicional e Defesas Naturais
A medicina tradicional pontua-se no sentido de um conjunto de medidas e situações que proporcionam prevenção, cura e paz interior, se valendo de métodos naturais de cura, composto por ervas, massagens, acupuntura, relaxamento mental e outras técnicas. (Cfr: http://pt.shvoong.com/medicine-and-health/1757255-medicina-tradicional-defesas-naturais/#ixzz1vDp3qnlX )


Percorrendo a história temos algumas civilizações que edificaram seus sistemas de cura, originalmente vindos do povo e gradualmente sendo inserido nas universidades e formando profissionais com diplomas e certificados, dentre elas podemos citar a Medicina Ayurvédica de origem indiana e difundida em grande parte do mundo e com maior aceitação e popularidade a Medicina Tradicional Chinesa, tendo como expoentes a acupuntura e a fitoterapia (tratamento com plantas medicinais).
Esta forma de ver o corpo como um microcosmo, obrigatoriamente nos leva a buscar o equilíbrio de nossos pilares de vida. Segundo a OMS-WHO (Organização Mundial da Saúde), uma pessoa saudável deverá ter equilíbrio em quatro aspectos do ser humano:

1.      Esfera Física - a saúde física é a primeira busca, porém a diferença está se buscamos este equilíbrio denominado pelos fisiologistas de “homeostase”, de dentro pra fora, ativando e mantendo íntegra nossa imunidade, ou se acreditamos que intervenções externas com drogas muito potentes é que vão resolver nosso desequilíbrio. Na MTC recomenda-se tratar os sintomas, mas também a causa, evidenciando o princípio de tratar o ser humano como um todo.

2.      Esfera mental – há algum tempo atrás, nas sociedades ocidentais a medida de valor de um ser, era o seu alto QI (quociente de inteligência), hoje sabemos que este índice só mostrava a capacidade racional do indivíduo, sendo atestado na atualidade no próprio mercado de trabalho, a valorização da inteligência emocional, psíquica, espacial, social, linguística, e tantas outras. Junto com estas potencialidades residem as emoções, sentimentos estes capazes de alterar em segundos toda nossa bioquímica fisiológica em reações que podem levar até a morte, nos casos de paradas cardíacas ou derrames cerebrais, depois de vivências de emoções muito fortes. A era da informação que vivemos, também precisa ser a era do otimismo e do pensamento positivo, cultivando valores nobres e emoções depuradas, evitando o acúmulo dessas energias ou a falta delas, ocasionando as ditas doenças sociais, como a depressão, ansiedade, distúrbios psíquicos, alcoolismo, tabagismo, obesidade e tantos outros. No oriente há um adágio que diz “ uma pessoa é aquilo que ela come”,aqui fomos ensinados que uma pessoa é aquilo que ela pensa, mas com a alma latina que predomina no Brasil, podemos dizer que uma pessoa é aquilo que ela sente como queria Carl Jung e 

3.      Esfera social – é sabido que o homem é um ser sociável, é um princípio de nossa filosofia, sendo assim, como podemos considerar saudável os “isolamentos” ou “ausências”, até mesmo quando percebemos que estamos no trabalho, em casa, em família ou amigos, ou até mesmo numa prática religiosa, a maioria ainda se sente solitária. A Saúde social é atingida à partir do momento que entendemos que somos parte integrante de organizações, desde a primeira célula social que é a família, amigos, colegas de trabalho, comunidades, escola, lazer. Em resumo quem não se integra não se entrega para o exercício de sua socialização e cidadania plena, com múltiplas actividades de diferentes aspectos, mas sempre necessárias e complementares.
4.      Esfera espiritual – este ponto não tem nenhuma conotação religiosa, porém trata da religiosidade e da necessidade do ser humano desenvolver um sistema de crenças de acordo com sua cultura e influências, para cultivar sua espiritualidade. O conceito de religar e do latim como forma der

 1.2 A prática de sistemas de saúde e cura de doenças nas comunidades
Em qualquer sociedade, em qualquer lugar quem procura cuidados de saúde tem a sua disposição vários sistemas de prestação de cuidados de saúde. Todas as sociedades são pluralistas, não há um único sistema de saúde. Há uma dezena de sistemas de saúde, de prestação de  cuidados de saúde as pessoas quem precisa de cura, de alivio da dor (de qualquer tipo) procura um prestador  de cuidados.
A procura de um terapeuta tem a ver com quem procura – a sua historia, a sua cultura as suas experiências anteriores a sua capacidade de pagar, género o nível e natureza de sofrimento. Cada  um destes sistemas de saúde nos seus discursos apresenta-se como o melhor ou tenta manter uma certa hegemonia e tal hegemonia que cada um dos praticantes tenta manter para si pode ser explicada de varias formas: ganhos económicos, acesso ao poder politico, sistema de saúde dominam  num Pais ou no mundo, maior eficiência , eficácia, etc.

1.2.1 Níveis dos sistemas de saúde
Os sistemas de saúde têm vários níveis. As tensões podem existir muitas vezes ao nível nacional e internacional mas não existirem ao nível dos praticantes nas aldeias e localidades ao nível das famílias
Segundo Kleiman apud KONTANYI,(2003) existem três sectores de prestação de cuidados de saúde: o sector popular, o sector folclórico e o profissional.
·         O sector popular- constitui um domínio de prestação de cuidados de saúde não profissional, leigo onde as doenças são diagnosticadas e tratadas dentro da família, recorrendo-se a varias tradições de cura: vai-se a casa do enfermeiro vizinho, a caixa de remédios do avo;
·         O sector folclórico – inclui os prestadores locais de cuidados de saúde, os ervanários , os curandeiros os advinhadores, os exorcistas, as matronas tradicionais, etc
·         O sector profissional – é o sector de especialistas em bio-medicina e para fazer parte deste tipo tem que ter diploma.
Estes três sectores tendem a entrar em conflito o que se tentam estabelecer como os únicos e melhores, esta relação entre os prestadores de cuidados de saúde tradicionais e bio-médicos tem sido bastante conflituosa, mas a expansão do HIV/SIDA, as doenças ligadas com a insegurança social e com a guerra, o desemprego, as transformações sócio-económico , o desenvolvimento, a ruptura de laços familiares fazem com que os prestadores de cuidados de saúde de diferentes tradições se vejam forcados a colaborar.
Em muitos países, os prestadores de medicina não bio-medicas, os praticantes de medicina chinesa, da medicina tradicional africana também constroem a sua identidade como medicina profissional.
Os sistemas tradicionais de saúde estrutura-se pelo referido campo simbólico e articulam por isso, família, economia, politica, religião, magia e feitiçaria. É por ele que se modelam as representações e as praticas de saúde e da doença, uma sociedade onde há comportamentos de ordem tende a ser constituída por membros saudáveis e a doença é representada como um efeito produzido pela desordem em qualquer um dos  processos dos seus diferentes domínios

1.3 Actores especializados no sistema de saúde
De acordo KONTANYI (2003:40)
Existem basicamente quatro tipos de actores especializados no sistema de saúde nas comunidades: adivinhos (que fazem adivinhação através de diversos sistemas divinatórios); curandeiros (que tratam certas doenças através de diferentes técnicas e meios); médiuns (que tratam certas doenças onde intervêm activamente vários tipos de espíritos) e fazedores de feitiços (que induzem alteração de forcas).
Existem  ainda outros actores importantes como chefes de tradicionais (considerados grandes curandeiros e feiticeiros) e chefes ou seniores de famílias (únicos consultantes peritos). É verdade que afirmar que em determinadas situações qualquer individuo da comunidade ou família pode ser suspeito, acusado ou condenado como feiticeiro (representando como alguém que rouba poderes de saúde, ou riqueza a outrem para proveito próprio)
Cada um dos três primeiros tipos de peritos indicados nas comunidades pode acumular funções de dois ou mais tipos, um adivinho pode ser curandeiro, um médium também pode ser curandeiro e adivinho mas de forma geral, tis peritos do sistema de saúde são possuídos por espíritos e o seu papel deriva do poder desses espíritos o que revelaram querer possuir essas pessoas quando esta se tratava de alguma doença.
Cada um dos peritos sabe diagnosticar e ou tratar uma ou varias doenças ainda que o diagnóstico e terapia não tenham que ser concordantes. Existem diferentes tipos de doenças desde as mentais, ‘as psico-sociais e ate as somáticas

1.4 Origem das causas diagnosticadas das doenças
As causas das doenças ou infortúnios muitas vezes podem estar ligadas a vários tipos de fenómenos:
·         Incumprimento de normas sociais ou familiares;
·         Castigo de espíritos antepassados por incumprimento de normas ou proibições;
·         Meio de revelação do projecto de possessão de um espírito estrangeiro que em vida possui poderes especiais;
·         Agressão de um espírito de um familiar que morreu sem poder tornar-se antepassado e que reclama atenção, rituais, ofertas varias ou construção de uma casa;
·         Agressão de um espírito de um defunto não familiar que não foi devidamente enterrado e que pode exigir somas muito importantes e que deve ser exorcizado;
·         Por ter visto ou participado em cerimonias violentes ou mortes, sobre tudo quando há derramamento de sangue e não existe iniciação e respectiva purificação;
·         Feitiços activados por algum agressor;
·         Factores naturais.
O diagnóstico geralmente pode ser canalizado através de adivinhação ou por olfacto que detecta um espírito interveniente. São conhecidas terapias para múltiplas doenças (esterilidade, mulher que aborta, epilepsia, diarreia, herpes, dores de cabeça, dores de pele, doenças venéreas, etc).
As terapias de uma forma geral, integram dimensões físico-químicas e simbólicas e quase todos os medicamentos deriva de plantas (folhas, cascas, raízes e sucos) que são indicados pelos espíritos quase sempre através de sonhos e que são ministrados através de consumo (bebida e comida) de banho com agua quente (onde tais materiais estão misturados) para lavagem ou debaixo de um cobertor para o doente suar. A forca desses elementos está ligada a forca dos espíritos que lhes dão esse poder  por isso é necessários realizar rituais preventivos para evitar o perigo de os retirar sem o seu consentimento.

1.5 O papel dos médicos tradicionais na prevenção ao HIV/SIDA

O aumento de portadores da AIDS, mais conhecida como SIDA em Moçambique, aliado a uma realidade de escassez de médicos e profissionais da área da saúde, presencia um constante crescimento no número de curandeiros e na realização de rituais, sendo que, de acordo com as últimas estimativas do governo, o número de curandeiros ultrapassa o de setenta mil pessoas em todo o país. Assim, torna-se surpreendente que, em pleno século XXI, após Moçambique ter passado por um período de colonização portuguesa e pelo socialismo da pós-independência, que os curandeiros ou vanyangas, como também são chamados, tanto os anunciados nos jornais/revistas locais como os divulgados nos manuais de orientação de saúde populacional distribuídos em todo o país, sejam vistos como a principal fonte e alternativa de cura de doenças ainda não solucionadas pela medicina tradicional ou pelos profissionais especializados na área da saúde.

Nessa perspectiva, o curandeiro, que representa o interlocutor entre o doente (nyanga) e o ser superior sagrado, é dotado de todo um simbolismo, além da extrema credibilidade, fazendo com que a maioria dos moçambicanos doentes o procure ao invés dos profissionais da saúde, adoptando como correcta a prática de rituais sagrados, que variam desde a adivinhação até a manipulação de ervas e a purificação através de banhos, ablações e sacrifícios com meninas virgens ou animais sagrados, para a obtenção da cura. Assim, o curandeiro, mais que os médicos ou qualquer outro profissional especializado, é aquele que detém um papel de fundamental e extrema importância na sociedade moçambicana, à medida que determina quando e por quem a doença pode ser curada, seja através do ritual ou da medicina tradicional, sendo então, a peça determinante na busca da cura das patologias modernas.

1.6 Rituais como formas de reprodução simbólica
A reprodução simbólica que se dá através dos rituais, surge como um meio de neutralização de ameaça ao que se considera estranho, daquilo que é novo, mas que para muitos parece ainda ineficaz diante do desespero e despreparo para se enfrentar a nova realidade que se posiciona no mundo. Desta maneira, o retorno à tradição, através da utilização do simbolismo dos rituais de cura, formado pela linguagem, pelos gestos, objectos, emoções e pessoas determinadas, adquire um poder misterioso de ligar o humano e o sagrado.
Para Marilena Chauí (1994), o sagrado pode ser considerado como experiência da presença de uma potência ou de uma força sobrenatural que habita algum ser – planta, animal, humano, coisas, ventos, águas, fogo. Essa potência é tanto um poder que pertence própria e definitivamente a um determinado ser, quanto algo que ele pode possuir e perder, não ter e adquirir. O sagrado é a experiência simbólica da diferença entre os seres, da superioridade de alguns sobre outros, do poderio de alguns sobre outros, da superioridade e poder sentidos como espantosos, misteriosos, desejados e temidos.
Neste contexto, o sagrado produz o próprio encantamento com o mundo, o qual havia se desencantado diante da nova realidade que se coloca e da impossibilidade momentânea da cura das novas patologias modernas, diminuindo deste modo, o distanciamento entre o homem e a divindade, à medida que suas necessidades e essencialidades são ouvidas e atendidas pelas forças sobrenaturais que agem magicamente nos indivíduos.
Assim, os rituais de cura, que ocorrem através da repetição minuciosa e perfeita do rito e do processo de transe em curandeiros, profetas, magos, astrólogos, videntes, xamãs, sacerdotes, pajés ou pessoas dotadas de poderes especiais em determinadas comunidades, têm como propósito trazer o sagrado, também conhecido por mana ou por ntu, nome dado na África, até o indivíduo doente e anunciar a vontade divina, que pode ser a dádiva da cura ou a própria morte daquele que está convalescido; bem como representam uma verdadeira aliança entre o doente e o ser superior/sagrado, através da realização de um processo de troca, no qual o doente oferece algo significativo para a divindade, que pode ser um objeto, uma dança, um animal, um filho ou um bem de extremo valor simbólico, em troca espera receber a cura de sua enfermidade.
Os rituais representam independentemente da categoria social e económica do doente, visto que se encontra acessível a todos os cidadãos, o principal e mais importante veículo de troca dos fluidos espirituais, que transparecem como um bálsamo salutar para aquele que se encontra acometido por algum tipo de patologia, pois atrai as dores do individuo convalescido para as forças sagradas e o entrelaça mentalmente pela fé com o ser superior, dando-lhe sempre uma resposta, seja através da revitalização de seu corpo, da edificação de suas esperanças em relação à cura de suas enfermidades ou, até mesmo, da própria obtenção da cura.
O ritual, mais do que uma súplica do doente ao ser superior, estabelece uma verdadeira prece, cujo momento da comunhão com o sagrado se dá através do sacrifício do doador à divindade em busca de sua salvação, torna-se um momento único e de poderosa magia, cuja linguagem humana jamais poderá exprimir correctamente mediante sensação de magnitude e cumplicidade.
Neste sentido, o simbolismo presente na realização de uma prece ou de um ritual sagrado, permite ao indivíduo encontrar valores essenciais e necessários para a sua própria organização e reconstrução na sociedade em que vive que, por sua vez, encontrava-se corrompida pelos ideais da modernidade.
De acordo com Cassirer (1987), o simbolismo do sagrado permite o acesso a um mundo especificamente humano, ao mundo da cultura, a qual não se define em uma ciência interpretativa, que busca um significado propriamente dito, mas que busca e se define como a própria substância da sociedade, e desta maneira, sem a presença do simbolismo e dos significados, a vida humana ficaria encerrada dentro dos limites de suas necessidades biológicas e de seus interesses práticos; não encontraria acesso a um “mundo ideal” e não teria qualquer sentido.


  Conclusão
A medicina tradicional pontua-se no sentido de um conjunto de medidas e situações que proporcionam prevenção, cura e paz interior, se valendo de métodos naturais de cura, composto por ervas, massagens, acupuntura, relaxamento mental e outras técnicas. Em muitas comunidades rurais por exemplo, a cura de doenças com base na experiência local continua a ser praticada aliada aos factores culturais por um lado e a falta de infra-estruturas sanitárias por outro.
O tratamento de doenças nestas comunidades tomam-se em conta as 4 esferas definidas pela Organização Mundial da Saúde nomeadamente: esfera física, esfera espiritual, esfera emocional e esfera social e em todas estas os tratamentos e a cura são feitos por pessoas especializadas e com uma larga experiência como curandeiro, feiticeiros, médiuns e outros anciãos da comunidades.
Embora em algum tempo esta pratica tenha sido desprezadas pela medicina ocidental, nos nossos dias e tomando em conta que tem estado maior numero de pessoas, tem sido levada em consideração e ate tem estado lado a lado com a medicina convencional.

Bibliografia
KONTANYI, Sophie. Espírito Corpo. Centro de Informação e Documentação Amilcar Cabral. Lisboa.2003.


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